sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Bocejos e neurônios


llÉ praticamente inevitável. Você olha, ouve alguém bocejar e quase que instantaneamente sua boca já está se abrindo. Talvez apenas por ler esta linha escrita e lembrar-se das vezes que bocejou, sua boca já esteja se abrindo e emitindo aquele som bem característico, que pode ser bem controlado nas pessoas tímidas. Às vezes ele vem até acompanhado por aquela sensação de preguiça tão gostosa.
Mas afinal, por que isto acontece? O que faz com que este desejo de bocejar seja praticamente incontrolável? 
Por mais sem importância que isto pareça, esta e outras funções do nosso organismo estão diretamente ligadas a um grupo de neurônios descoberto quase que acidentalmente por cientistas da Universidade de Parma na Itália, os chamados neurônios espelho.
A propósito, neurônios são células existentes no nosso cérebro, responsáveis por todo o processamento de informações, o modo como recebemos os estímulos do meio ambiente e como reagimos a eles. Os neurônios são a chave da comunicação entre o cérebro e o restante do nosso corpo. Por exemplo. Imagine que você encostou sua mão em uma chapa muito quente. Para que você tenha o reflexo imediato de tirar a mão existe um complexo processo coordenado por inúmeros grupos de neurônios que fazem com que o estímulo chegue até o cérebro e este prontamente emita uma resposta que faz com que sua musculatura reaja e você tire a mão.
No entanto, dentre vários grupos específicos de neurônios, os neurônios espelho tem sido estudados com muito carinho desde a década de 90. Este grupo de células seria responsável pela função de mimetizar ou “imitar” as ações que observamos nos outros. Imagine que estivéssemos conversando pessoalmente e eu levantasse meu braço direito. Automaticamente, por mais que você mantivesse seu braço abaixado a área do seu cérebro responsável por levantá-lo seria ativada. Repito. O seu braço permanece abaixado, mas seu cérebro funciona como se ele também estivesse erguido.
E talvez você esteja se perguntando: E o que é que tenho a ver com isto?
A resposta é simples e interessante. Primeiramente toda a parte da empatia, do relacionamento humano pode ser redirecionada por estes estudos. Contudo, o mais importante é que os neurocientistas S. Ramachandran e Lindsay Oberman da Universidade da California têm desenvolvido estudos que tentam correlacionar a deficiência ou ausência deste grupo de neurônios ao autismo. Nas pesquisas iniciais perceberam que em crianças autistas esta função da imitação não era realizada e que as áreas responsáveis pela execução da tarefa não eram ativadas, justamente pela ausência deste grupo de células. Isto explicaria, por exemplo, a dificuldade que o autista tem em se relacionar com outras pessoas e o fato de constantemente ficar limitado a um “mundo particular”, onde a interação social e a capacidade de adquirir novos hábitos e comportamentos ficam comprometidas. 
Quem sabe seja uma luz no tratamento para os portadores deste distúrbio.

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