sexta-feira, 29 de abril de 2011

Algo sutil

Um ser humano é capaz de mudar suas atitudes? Logicamente sim. Foi por acreditar plenamente nisto que na hora que tive de optar entre seguir na Odontologia ou dedicar meu tempo integralmente ao treinamento e desenvolvimento de pessoas, fiz a segunda opção. Digo mais: Um ser humano é capaz de alterar para melhor seus comportamentos, adquirir novas capacidades, mudar crenças e paradigmas pessoais e tornar-se um indivíduo muito melhor, preparado para influenciar positivamente sua vida e a dos que estão ao seu redor. Isto não só é factível como é mais simples do que se pode pensar.
Mas,todos podem conseguir tudo? Existe algum limite para estas mudanças? Quais os critérios principais que fazem com que alguém transforme-se em um ser humano melhor? Respondo: Não, nem todos podem conseguir tudo, porque cada um de nós tem um teto (leia coluna da semana passada) e o limite que esta transição alcança está relacionado ao tamanho deste teto, à capacidade, humildade e vontade em aprender e principalmente à disciplina para colocar em prática novos recursos. Ótimo! Sendo assim, basta reunir estas características e algumas outras e qualquer ser humano pode atingir resultados melhores, ser especial e fazer a diferença? Teoricamente a resposta seria sim, mas no frigir dos ovos a resposta é... NÃO. 
Há algo a mais, muito sutil, porém imprescindível. E é justamente este algo que diferencia um ser humano especial, baseado em virtudes cardeais e um outro ser humano repleto de recursos, mas que pela falta ou insuficiência deste ‘algo’ pode ser considerado um ‘perigo’. O que é este algo? Simples. Algo chamado índole. Já ouviu que ‘tal sujeito tem boa (ou má) índole’? Pois o significado de índole, do latim índoles é: Propensão inata, tendência natural, caráter, sendo que caráter significa: Retidão moral, forma de agir do indivíduo em relação a si mesmo e ao mundo. Entendeu? Algo que a pessoa traz dentro de si.
Por isso que disse que quando este ‘algo’ chamado (boa) índole ou (bom) caráter falta, a pessoa torna-se um ‘perigo’. Porque ela se transforma em uma ‘tranqueira’ cheia de recursos. E alguém com má índole e boas habilidades é capaz de fazer estragos consideráveis. Estou sendo muito duro? Acredito que não. Principalmente se tratarmos o assunto de forma isenta e sem muitos melindres. Mesmo levando em consideração que normas morais e éticas podem ser entendidas de formas diferentes, há uma linha mestra, preconizada por leis, bom senso e virtudes que deve ser seguida.
Gratidão, respeito, lealdade, hombridade, educação, altruísmo, cordialidade, companheirismo, ternura, amor, retidão, senso de justiça, entre outras, são partes integrantes deste algo chamado caráter, peças que juntas formam uma boa índole. E que diferença isso faz...
Lendo meus textos, sem me conhecer pessoalmente, você pode achar que sou retrógrado, conservador ou meio ranzinza. Engano. Porém, acredito que a boa índole é essencial para que a sociedade seja menos vil, violenta, superficial, fútil, impessoal e perigosa. Só tem um problema em tudo isso. Virtudes que servem de alicerce para bom caráter e boa índole não são ensinadas em cursos e treinamentos. Por isso, vale a pena ficar atento.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O teto

Mais uma vez citarei meu grande amigo e mestre José Orlando. Faço questão de citá-lo nominalmente porque acho importante mencionarmos as fontes de onde ‘bebemos’ conhecimento e pelo privilégio que tenho em desfrutar de sua companhia, amizade e sabedoria.  Este meu amigo, de forma bem tranqüila e serena, já me disse algumas vezes: “Zé, não adianta insistir. Cada um tem seu próprio teto”.
Ouço isto dele, normalmente em situações onde estou tentando inserir alguém em algum projeto ou quando pergunto se na opinião dele determinada pessoa possui o perfil para empreender algum novo caminho.
Faço questão de ressaltar que não se trata de menosprezo. Muito pelo contrário. Geralmente percebo, vezes de modo correto e outras equivocadamente, capacidades nas pessoas que elas mesmas não percebem. Quantas vezes você não entendeu, não se conformou com o fato de pessoas que conhece ficarem muito aquém de seu real potencial e consequemente colherem resultados bem menores do que poderiam e mereciam colher? Ou pior, quantas vezes já ouviu de outros que você possui inúmeras qualidades e. não acreditou?
Pois é. Cada um tem seu teto, pois cada um impõe a si mesmo este teto. Isto acontece desde cedo e é tão assustadoramente verdadeiro que em algumas circunstâncias, quando as pessoas estão prestes a romper este limite que se impuseram, quando estão quase  ‘aumentando’ este teto arranjam as maneiras mais impressionantes, os mecanismos mais absurdos de autossabotagem. Desculpe, mas é isto mesmo. As pessoas usam a autossabotagem para manter-se no limite exato, ou sempre um degrau abaixo do teto que acreditam ter.
Alguns já fazem isto logo no início, usam a preguiça, a falta de disciplina e nem iniciam a jornada ou desistem ao primeiro obstáculo. Para estes o sofrimento é menor, já que se conformam em ser apenas coadjuvantes de suas próprias vidas, meros transeuntes da jornada que vieram (não) cumprir. Outros fazem diferente. Lutam, persistem, dedicam-se e quando têm a grande oportunidade de suas vidas... pronto. Jogam tudo pela janela. Arrasam qualquer possibilidade de crescimento, regredindo praticamente ao ponto zero, mas sem a perspectiva de um novo recomeço e sim com a frustração de mais uma vez ter falhado. Qual o nome disto? Autossabotagem. 
Mas existe ainda outro modo de limitar seu próprio teto. Talvez seja um neologismo, mas chamaria de auto ilusão. São aquelas pessoas que vivem enganando a si próprias achando que estão enganando os outros. Mais ou menos como um adolescente imberbe que ‘mata’ aula, ou a pessoa que faz dieta e ‘come escondido’ para não ser cobrado. A pergunta é: Na realidade, quem estas pessoas estão enganando senão a si próprias? Paciência. Cada um tem sua vida, cada um faz seu teto. Não se trata de poder fazer tudo, mas sim de perceber que é possível se fazer muito mais do que se faz. Novamente recorro ao meu mestre, que cita um ditado da cultura africana que diz: “O que a cabeça não quer, nem Deus pode querer. Se a sua cabeça não simpatiza com a sua causa, nada pode ser feito por você”. A propósito, qual o tamanho do seu teto?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O goleiro e a empresa

No domingo de 27 de março último, por mais alheios que fôssemos em relação ao futebol foi quase impossível ficar indiferente ao 100º gol marcado pelo goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Particularmente, como bom são paulino que sou e fã do maior goleiro artilheiro do mundo, acompanhei de perto toda esta trajetória, desde seu primeiro gol em 1997. Talvez não estejamos nos dando conta do tamanho do feito obtido pelo atleta tricolor, mas quando pensamos que muitos atacantes não conseguem atingir esta marca tudo muda de figura.
Contudo, deixando a questão ‘clubística’ de lado, quero aproveitar para traçar alguns paralelos entre o fato e o cotidiano profissional de maneira geral. Sim, porque além dos gols e da marca, há sutilezas que tangem este assunto e que são traços em comum necessários para o sucesso profissional, independente do segmento de atuação.
1º Senso de Oportunidade e capacidade em aceitar desafios: Quando Rogério começou a treinar faltas e cobrá-las nos jogos, a equipe do São Paulo não contava com nenhum exímio batedor. Percebendo esta lacuna, o profissional começou a aperfeiçoar-se para assumir tal papel.
2º Quebra de paradigmas: Não havia no Brasil nenhum goleiro que fizesse isso. Apenas os goleiros Chilavert (Paraguai) e Higuita (Colômbia) executavam tal tarefa, mas eram vistos como folclóricos em suas equipes. Mesmo recém promovido à equipe profissional e com a missão de substituir o goleiro anterior e ídolo Zetti, Rogério quebrou este paradigma.
3º Suporte da Liderança: Para que um potencial individual seja desenvolvido em uma equipe é essencial que exista o suporte do líder. Quando Rogério se propôs a cobrar faltas e pênaltis, Muricy Ramalho técnico da época e que depois ganhou três títulos brasileiros consecutivos com a equipe ‘bancou’ a aposta e deu respaldo ao atleta. Quantos profissionais talentosos não acabam ficando pelo caminho por não ter apoio de seus líderes? 
4º Buscar um diferencial: Por meio do treino de faltas e pênaltis, Rogério passou a destacar-se em relação a outros goleiros que até então não se preocupavam em ter habilidade com a bola nos pés. Desta maneira passou a ter uma visibilidade maior na mídia e a ser considerado um atleta diferente, especial. 
5º Comprometimento e exemplo: Assim como Marcos, goleiro do Palmeiras é exemplo de identificação com o clube. Jogam sempre que podem e às vezes até quando não podem. Literalmente vestem a camisa de seus clubes e são retrato da identificação em uma época onde o que prevalece são os dólares e euros. Rogério sempre é o primeiro a chegar e o último a sair nos treinos da equipe, mesmo sendo consagrado e tendo o maior salário do elenco.
Depois disso tudo, independente do time que você torce, da sua opinião a respeito do atleta e com base no contexto profissional que você vive, quero deixar duas perguntas para reflexão. Primeira: seria importante para uma equipe contar com alguém com estas características? Segunda: Ainda acredita que sucesso pode ser fruto exclusivamente do acaso? Pense nisso. 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Vida de cão

Por mais que estude o comportamento humano e trabalhe com isso, algumas coisas realmente ainda me deixam perplexo. Semana passada, minha esposa socorreu um animal de estimação, um pobre cãozinho que a priori havia sido atropelado e agonizava a beira da pista. Levou-o ao veterinário, onde foi examinado, medicado e onde foi diagnosticada a fratura de quatro costelas do animalzinho. Mas, o pior foi a informação do profissional de que pelas características dos ferimentos, não havia sido atropelamento, mas sim provavelmente uma agressão com pontapés e pauladas que havia provocado as fraturas. Simplesmente revoltante.
Revoltante, mas não surpreendente. Há poucas semanas li uma notícia de que uma mãe atirou seu filho recém nascido em um córrego. Comportamentos desviantes, que nos remetem às eras de barbárie são cada vez mais comuns. 
Muitos argumentam que se não temos condições de tratar bem de nossas crianças e idosos, como vamos nos preocupar com animais? Pois digo o seguinte: primeiro, temos condições sim de tratar melhor do nosso povo. E dos animais também. A questão é que faltam programas direcionados e boa vontade e sobram corrupção, descaso e mau uso do dinheiro público. Além do mais, cachorros e gatos não votam. Se votassem já teriam criado o ‘Bolsa Ração’. Por fim, o assunto não sensibiliza a opinião pública a ponto de significar benefício eleitoral. 
Segundo: quando maltratamos animais, estamos desrespeitando algo chamado VIDA. E quando o conceito de vida é banalizado, alguma coisa precisa ser revista. Gandhi dizia que podemos julgar a grandeza de uma nação pela forma que tratam seus animais. Os animais até conseguem lidar com a indiferença, mas suportar crueldade já é demais.
Talvez você que está lendo não concorde comigo. Respeito sua posição. Contudo, sinto-me privilegiado por ter recebido de meus pais e avós a herança do carinho e respeito pelos animais. Posso dizer que por conversas com profissionais da área veterinária há diversos programas simples que poderiam ser implementados e que melhorariam a qualidade de vida dos animais e por conseqüência dos seres humanos. E o que uma coisa tem a ver com outra?
Pesquisa da USP de 2010 relata que o convívio com animais eleva as defesas do nosso sistema imunológico. Há um programa em Londres dirigido a idosos para adoção de cães. Os índices de depressão diminuíram em mais de 40%. Motivo? Os cães eram companhia e o fato de ter de passear com os cães fazia indiretamente estas pessoas praticar exercícios físicos, sair de casa e se sociabilizar com outros donos de cães na rua.
Arthur Schopenhauer dizia que a compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter e quem é cruel com animais não pode ser um bom homem. Mas talvez você esteja querendo saber do cãozinho. Chama-se Ludovico, está em tratamento e será adotado pelos meus pais. Se você acha os argumentos, estudos e sentimentos em relação aos animais exagerados, de coração e com muito respeito, lamento. Talvez nunca tenha tido a oportunidade de olhar nos olhos de um cão e sentir o que é fidelidade e amor incondicional.