quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Problema crônico

No Brasil há algo capaz de tirar do sério o mais tibetano dos monges. Se você já precisou falar com uma operadora de telefonia, de um serviço de algum profissional autônomo ou mesmo de um atendimento em serviço público sabe o que estou falando. Creio que um dos problemas crônicos em nosso país é a péssima qualidade que encontramos de modo geral na prestação de serviços. É inegável que o contexto profissional mudou. O desenvolvimento do país nos últimos 15 anos criou um ambiente favorável para quem busca emprego. Em contrapartida gerou uma dificuldade considerável para quem busca profissionais. A escassez de mão de obra qualificada.

O cenário antigo, onde poucas pessoas concluíam os níveis básicos de ensino e um percentual menor ainda chegava a um curso superior, foi drasticamente alterado. A enxurrada de faculdades, a facilidade dos cursos pela internet, o maior acesso a meios de aperfeiçoamento técnico/ profissional acabou virando uma faca de dois gumes, pois não necessariamente um diploma ou certificado na mão é garantia de qualidade. Milhares de profissionais formados anualmente nas mais diversas áreas não reúnem os requisitos básicos para exercer a profissão. Quando focamos então em áreas menos específicas, a realidade é ainda mais desconcertante.

Exagero de minha parte? Pela experiência que temos ao prestar consultoria para empresa e os problemas que a área de recursos humanos nos apresenta, na realidade estou sendo bem otimista. A realidade é que somos tratados como lixo e pagamos altas taxas por isso.

Muito se divulga que há fartura de vagas para emprego. Até é verdade, mas é só uma parte dela. Um dos motivos da disponibilidade de vagas é que os candidatos não atendem às expectativas do empregador. Há vagas que ficam por mais de um ano sem ser preenchidas.

Infelizmente, hoje existe um abismo entre o que se espera do candidato e o que este pode oferecer. Há pessoas que ‘estão’ fazendo algo, mas não ‘são’ do ramo. Há pessoas que ‘estão’ trabalhando em funções administrativas, mas isto está bem longe do que desejam. O resultado é que trabalham desmotivadas, insatisfeitas e vislumbrando qualquer oportunidade que lhe propicie alguns reais a mais. 

Milhares de pessoas são literalmente jogadas no mercado de trabalho, sem estarem aptas para isto. O funil fica ainda mais estreito quando adicionamos a esta estatística o despreparo comportamental destas pessoas. Segundo pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, mais de 72% das demissões são causadas por problemas comportamentais. Ou seja, às vezes o indivíduo é até bom no que faz, mas não consegue relacionar-se bem em seu ambiente profissional. 

Algumas (poucas) empresas têm estado atentas a isto e começaram a investir em treinamentos para a qualificação de seus colaboradores.  Nossos serviços e impostos são os mais caros do mundo, mas certamente a qualidade na prestação destes serviços está bem aquém da que desejamos e merecemos. Ou você está feliz com o modo com que é atendido?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O melhor e o pior

Desta vez não teve jeito. Problemas semelhantes ao que aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro já acontecem há tempos no Brasil. Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e mais recentemente Santa Catarina já sucumbiram às chuvas. Nem estes episódios recorrentes serviram de alerta e de forma avassaladora fomos expostos a esta tragédia sem precedentes. Segundo a divulgação da mídia a maior tragédia da história do país. Não sei se a informação é verídica, mas ao menos que me lembre, jamais vi nada igual. E o que normalmente vemos pelo noticiário, consternados quando outros países são atingidos por furacões, terremotos, tsunamis e outros desastres naturais, aconteceu bem aqui, do nosso lado.

As cenas impressionantes chocam cada vez que são vistas. Mais de setecentos mortos, quando as previsões apontam para cerca de mais de mil vítimas fatais. Chocante, impressionante. Pela quantidade de mortos e de famílias totalmente destruídas em sua história, dignidade e futuro. Fica clara a fragilidade de um país que insiste em se achar desenvolvido, mas que escorrega em questões rudimentares, como a incapacidade de coordenar um plano emergencial para ajudar seu povo. 

Logicamente não adianta nada apenas procurar os culpados, mas é inegável que mais uma vez as autoridades foram negligentes. Um plano para emergências e desastres naturais foi prometido pelo governo federal em 2005 e apenas agora, vai começar a sair do papel. Somado ao descaso sobre as ocupações irregulares de áreas de risco e à falta de bom senso (ou opção) da população que insiste em construir nestes locais e finalmente a devastação ambiental formam o cenário propício para tais ocorrências. 

Contudo, chamo a atenção para outro prisma desta tragédia. São exatamente nas situações limite, onde o ser humano e sua sobrevivência são colocados à prova é que afloram o pior e o melhor que existe dentro de cada pessoa humana.  Nestes momentos que aparecem a solidariedade, o espírito colaborativo e o senso humanitário. A abnegação dos bombeiros (sempre eles), da defesa civil, das forças armadas, policiais e as centenas de voluntários. Inclusive alguns que perderam toda a família, mas que preferiram drenar sua dor na ajuda a seus semelhantes. Nestas atitudes fica evidente a grandeza que pode existir dentro de cada um de nós.

Mas, toda moeda tem dois lados e onde existe tanta bondade, também vem à tona o que há de mais sórdido, cruel e vil. Pessoas que desviam e roubam donativos, comerciantes que aproveitam do desespero para cobrar preços abusivos e os políticos (sempre eles) que usam o contexto para discursos cheios de demagogia e autopromoção. Vale uma ressalva. Da parte da nova presidente, louvável sua postura discreta. Pelo menos não precisamos no meio de tanta tristeza agüentar as bravatas e fanfarronices a que ficamos acostumados.
Felizmente para cada mau caráter existem 100 homens dignos. Que a dor destas famílias sirva como ponto de partida para atitudes contundentes e assertivas. Que o Pai Celestial ilumine, conforte e dê forças a estas pessoas. Com meu respeito e pesar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bem vindo 2011

Como a última coluna do ano passado tinha o título de ‘Obrigado 2010’ e servia como uma reflexão sobre o que se passara, ainda que já estejamos na segunda semana deste ano, como esta é a primeira coluna de 2011, achei por bem um título que saudasse este novo ciclo. Porém de um jeito um pouco diferente. Algo que soasse ao mesmo tempo pessoal, mas que talvez representasse alguns dos anseios comuns a tantos de nós, pessoas humanas.

Confesso que serve também de guia pessoal, visando à estrita observância de alguns itens que obviamente não servem como receita infalível para uma vida perfeita, mas são preceitos razoáveis para um cotidiano mais aprazível. Então, que seja bem vindo este 2011, que outrora pareceu tão distante, mas agora já é e deve ser usado como...presente. Que traga consigo as lições que devo aprender, para quem sabe com muita dedicação melhorar um pouco, frente ao muito que é necessário, a pessoa que sou.

 E que para isto, como sempre ouço de um grande mestre e amigo, eu tenha dentro do meu coração as cordas afinadas no mesmo diapasão que toca o “Grande Violão”. E que eu consiga diferenciar os ritmos; aliás, que eu esteja sempre no ritmo, no ritmo certo, seguindo o fluxo das coisas, nem tão veloz como normalmente exige a ardil ansiedade, nem tão lento como manda a sagaz displicência.

Que meus sonhos continuem vivos. E se estes sonhos estiverem em desacordo com minha missão, que eu passe a ter novos sonhos, que atendam o meu real propósito em estar vivo. Falando em sonhos, que eu perceba sempre, dormindo ou acordado, que meus sonhos são a mais pura ligação entre minha alma e meu destino. E sabendo disso que eu não seja precipitado e nem leviano com estes sonhos.

Que eu saiba desfrutar dos bons momentos com alegria e discernimento e consiga assimilar os golpes que virão com dignidade e o mesmo discernimento. Além disso, que eu tenha percepção suficiente para perceber quando os golpes de outras pessoas são desferidos contra mim, por algo que tenha feito (ou deixado de fazer) e quando sirvo apenas como recipiente para as confusões, desacertos e inseguranças delas. Lembrando, claro, de rogar ao Pai Celestial que mantenha em meu caminho os reais companheiros de jornada, mas que também continue a abençoar e guardar, sem nenhum ressentimento, os que optaram por outras trilhas. Ah! Importante! Que minha sensibilidade seja suficiente para diferenciá-los quando cruzarem meu caminho. 

Que os ventos e tempestades de mudança sejam de intensidade suportável e me mantenham com os pés no chão, disposto a colocar mais uma pedra, depois de polida em minha edificação pessoal, que deve obedecer a um complexo paradoxo entre a consistência firme de caráter unida à flexibilidade em saber como e quando devo mudar. Tudo isto, sem sucumbir aos sorrateiros venenos da vaidade, deslealdade e outros tão traiçoeiros. E que o ímpeto, como uma chama que brilha intensa e continuamente continue a guiar meus passos, sempre em equilíbrio neste ciclo chamado vida.Que assim seja.