quinta-feira, 27 de outubro de 2011

EQUAÇÕES

llA vida não é uma ciência exata.  Para alguns, nenhuma novidade nesta afirmação, enquanto para outros o que acabo de escrever é um tremendo absurdo. Não adianta: por mais que planejemos, e acredito que planejamento é uma ferramenta realmente eficaz, há variáveis que não estão no nosso controle. Podemos agir, tentar impor nossa Vontade, mas há coisas que definitivamente fogem à nossa alçada.
O motivo de tal reflexão? Porque hoje, por motivos que não vem ao caso, em uma bela noite de quinta feira, encontro-me assistindo uma aula de álgebra linear. O que é álgebra linear? Confesso que não faço idéia. Desde pequeno penso que eu e a matemática não nascemos um para o outro. Deparo-me com funções, senos, cossenos e fórmulas matemáticas completamente malucas. Nada poderia parecer mais obscuro. 
Contudo, se antigamente isso me causava arrepios, hoje me traz serenidade. Entendo claramente que minha inabilidade com tais assuntos, certamente foi um dos motivos que me fizeram cursar Odontologia e posteriormente enveredar para o caminho de treinamento e desenvolvimento humano.
Vale ressaltar. Nada contra as ciências exatas. Segundo Howard Gardner, estudioso do comportamento humano e ‘pai’ da Teoria das Inteligências Múltiplas, cada um de nós possui alguns ‘tipos’ de inteligência mais desenvolvida, dentre as quais a inteligência matemática é uma delas. Admiro quem desenvolveu esta vertente de inteligência, mas sinceramente não é o meu caso.
Não sou um homem de exatas. Não sou guiado por números e valores matemáticos. Sou guiado por sentimentos e pessoas. E o que me fez trilhar o caminho que trilho hoje é que acredito que o ser humano, seja biologicamente ou em sua psique não é uma criatura linear, exata. Não se pode colocar o ser humano dentro de uma equação ou de qualquer outra operação matemática. 
Olhando para o quadro e vendo esta infinidade de números que não me dizem nada, entendo porque estou aqui. Para ter certeza que sou um homem que não vivo DE e POR números. Para sedimentar minha linha de conduta que prima por tratar pessoas como pessoas humanas e não como números, estatísticas. Não sou um homem de exatas. Sou um homem de biológicas e humanas. Não sou cálculo. Sou cura e relacionamentos, tudo que há de mais inexato e subjetivo em relação ao ser humano em seus aspectos orgânicos, afetivos e sociais. Não há operação matemática capaz de explicar sentimentos como altruísmo e amor.
Há teorias que dizem que o Universo funciona segundo leis matemáticas e mesmo fenômenos naturais se enquadrariam em tais leis. Sinceramente não duvido disto. Apenas acredito que algumas destas equações da vida, habilmente criadas por um Grande Arquiteto, jamais serão solucionadas por nós. E que não precisamos sofrer por causa disso. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os ciclos se repetem

llHá uma bela reflexão sobre um homem que perguntou a um sábio sobre oráculos, se eles realmente funcionavam. O sábio homem afirmou ao aprendiz que sim, funcionavam. E muito. Exceto para aquelas pessoas que conseguiam atingir a 'iluminação'. Disse que os 'iluminados' eram tão vazios de seu passado e tão plenos em seu presente, que seria impossível prever o futuro. 
O jovem aprendiz então perguntou: "Mas o que isto tem a ver com as previsões do futuro? Por que é impossível sentir as decisões futuras destas pessoas?" E mais uma vez aquele velho homem, sorrindo, explicou que os oráculos não leem o futuro dos homens. Leem seu passado. E o ser humano nada mais é do que uma constante, e às vezes triste, repetição de si mesmo. Os ciclos se repetem.
É fato. Os ciclos se repetem. Nossa vida é feita de ciclos. Já aconteceu com você, comigo, com pessoas próximas a nós. Ainda que não tenhamos nos dado conta disso. Repetimos padrões nos mais diversos segmentos de nossa vida. Se formos avaliar a fundo, nossos relacionamentos profissionais, afetivos, familiares, todos eles seguem certo padrão.
Reavalie, por exemplo, situações profissionais suas: Talvez em épocas diferentes, empresas diferentes, atividades diferentes, certamente havia semelhanças entre elas. Ou um chefe autoritário, opressor, talvez alguém querendo 'puxar seu tapete' ou ainda alguém que você confiava e que lhe 'passou a perna'. 
É muito provável que você perceba identificações entre as situações. E se examinar mais a fundo, perceberá que padrões semelhantes se aplicam a outras situações de sua vida. Não concorda? Avalie mais a fundo. Identifique as repetições que existem e existiram em sua vida e se surpreenderá com a quantidade de vezes que isto acontece. Todos nós estamos sujeitos a erros. O problema é que quase sempre erramos nas mesmas coisas, repetimos os mesmos padrões de comportamento.
A má notícia? Pessoas passam a vida repetindo ciclos. Passam toda uma existência sem se dar conta que estão incorrendo nos mesmos erros. E reclamam, se culpam, colocam a culpa nos outros, dão justificativas, desculpas, mas insistem em não dar a devida atenção ao que muitas vezes está explícito, claro, pulsante a sua frente. Que estão repetindo ciclos.
A boa notícia? A partir do momento que percebemos isto, podemos romper estes ciclos, quebrá-los. E ao fazer isto, rompemos inclusive com um padrão energético que circunda isto. Estamos alterando, modificando o 'caminho', o que automaticamente torna diferente o 'final'.
Somos uma constante repetição. E se não percebermos isto estaremos fadados a cair sempre nas mesmas armadilhas, geradas pela nossa falta de percepção. Chico Xavier dizia que em nossa vida é impossível fazer um novo começo, mas temos toda a possibilidade (e a responsabilidade) de fazer um novo fim. Para isto é fundamental que percebamos estes ciclos repetidos. E tenhamos a atitude necessária para alterá-los.

Dr. Jose´Carlos Carturan Filho é Cirurgião Dentista, Especialista em Medicina 
Comportamental e MBA em Gestão de Saúde e Mkt

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Discursos e Soluções

llAlguns acontecimentos das últimas semanas somados a uma observação silenciosa e apurada que tenho feito de pessoas com as quais mantenho contato esporadicamente me fizeram definir o texto desta semana.
As coisas estão tão esquisitas que vale a pena parar para refletir. Particularmente, ‘viajando’ um pouco, creio que o momento atual seja crucial para o que viveremos nos próximos anos. Não apenas porque obviamente nosso futuro depende do hoje, mas exatamente porque penso que passamos por um momento de transição. Talvez uma das maiores transições que a humanidade já passou. Exagero? Teoria conspiratória? Prenúncio do apocalipse? Proximidade do ‘temido’ 2012? Nada disso. Basta perceber as pessoas que convivem com você, com as quais você se relaciona em seu trabalho, família e vida social.
 É impressionante o vazio que toma conta de alguns. Sem críticas, ok? Apenas uma constatação. Relacionamentos impessoais, padrões de conduta mecanizados, falta de propósitos e porque não, falta de humanidade mesmo. Pode reparar. Grande parte das pessoas vive um ritmo tão absurdamente frenético que já não sabem mais o que lhes é importante. Duvida? Então pergunte a elas: o que é importante para você?
Certamente verá na fisionomia do seu interlocutor espanto, deboche ou dúvida. Ou receberá a resposta que o importante é comprar um modelo novo de TV com HDMI, um celular novo, ou qualquer coisa que momentaneamente sirva para preencher esta lacuna e para responder tal pergunta.
 É um momento de extremos. Enquanto uns se voltam para dentro de si para tentar achar alguma resposta que seja um motivo para seguir adiante, a maioria se distancia de si mesmo, buscando fora, meios para suprir tamanho vazio. Onde? Drogas, bebida, sexo, comida, bens de consumo, fanatismo religioso, relacionamentos sequenciais e desestruturados. Discurso moralista este meu? Talvez se enquadre mais na categoria de realista.
As pessoas vão buscar fora o que não encontram em si mesmas. Que seja dita a verdade, na maioria das vezes porque nem mesmo procuram. É mais fácil encontrar alguém ou algo que ilusoriamente supra tais necessidades. O perigo é que neste universo de dúvidas, existem alguns que se aproveitam para trazer as tão aguardadas ‘respostas’ a tantos questionamentos, dizendo exatamente aquilo que queremos (e precisamos) ouvir. Como se existisse alguém capaz de responder a você algo que só você mesmo pode descobrir. Desconfie das soluções mágicas, dos discursos formatados, mas acredite nas possibilidades que possam ser geradas para que VOCÊ descubra seu caminho. E esta descoberta, única e pessoal, talvez seja uma das coisas mais bonitas que podemos viver.

Dr. Jose´Carlos Carturan Filho é Cirurgião Dentista, Especialista em Medicina 
Comportamental e MBA em Gestão de Saúde e Mkt

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Falsas Necessidades

llAlgumas semanas atrás, escrevi um texto sobre o valor e a importância da amizade. Corro o risco de parecer redundante, mas ainda assim nesta semana transcrevo um texto que fala exatamente sobre o mesmo assunto.
Narra uma crônica que um homem andava por uma estrada, acompanhado de seus fiéis animais: um cavalo e um cão. Pelo caminho, um raio os atingiu e os três foram fulminados. O homem não se deu conta que morrera e continuou andando, com seu cavalo e seu cão.
Longa era a caminhada, morro acima. O sol estava muito forte e a sede passou a castigá-los.
Numa curva do caminho, o homem avistou um portão magnífico, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro. Cumprimentando o guardião da entrada, o homem perguntou que lugar era aquele. Descobriu que ali era o Céu.
Feliz em saber que estava em um local tão agradável, indagou se poderia saciar a sua sede e a dos seus amigos, nas águas cristalinas da fonte que havia bem no centro da praça.
O senhor pode entrar e beber à vontade. - disse o guarda. Mas aqui não se permite a entrada de animais. O caminhante ficou muito desapontado. Grande era a sua sede, mas decidiu que não beberia sozinho.
Preferiu continuar sua caminhada. Exausto, mais adiante, deparou-se com uma porteira que se abria para uma estrada de terra, ladeada de árvores. À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu. Parecia dormir.
Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu - disse o caminhante.
Indicando uma fonte, entre algumas pedras, foi-lhe dito que poderia beber à vontade.
O caminhante, o cavalo e o cachorro foram até à fonte e mataram a sede. Em seguida, ele retornou para agradecer.
E resolveu indagar: A propósito, como se chama este lugar?
Aqui é o Céu - foi a resposta.
Céu? - exclamou o caminhante, surpreso. Mas já passei pelo Céu. Era um lugar muito bonito com um grande portão de mármore.
Aquilo não é o Céu, esclareceu o outro. Aquilo é o Inferno.
O caminhante ficou perplexo.
Mas, vocês deviam tomar uma providência. Com a informação errada, que lá, naquele lugar, é dada, pode ocasionar muita confusão. Muitas pessoas podem ser enganadas.
O homem sorriu e calmo, explicou:
Na verdade, eles nos fazem um grande favor, porque lá ficam todos aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos.
Fácil é a conquista e manutenção de amigos, quando a juventude compõe versos e a riqueza sorri. Contudo, é na forja da adversidade que os verdadeiros amigos se revelam. São esses que permanecem ao nosso lado, mesmo quando o mundo inteiro nos volta as costas. São eles que prosseguem conosco, mesmo com todas as dificuldades que o trajeto possa apresentar.

Obrigado a todos os amigos verdadeiros, que demonstraram tanto carinho e a amizade. Jamais esquecerei da importância de vocês em minha Odisséia.