quinta-feira, 30 de junho de 2011

Mais gente, menos gestão

Ultimamente tenho tido bastante contato em empresas com equipes responsáveis pela área de Recursos Humanos. A criação desta área em empresas de grande porte e mais recentemente até mesmo nas de média e pequena estrutura já são um grande avanço quando temos como comparativo o cada vez mais obsoleto ‘D.P.’ (departamento pessoal) ainda presente em algumas empresas e em órgãos públicos.
 Hoje há departamentos de recursos humanos que participam diretamente de decisões estratégicas de empresas. Cá entre nós isto é uma decisão extremamente salutar, mas ainda não são todos os profissionais que conseguem ter a abrangência de visão necessária para isto. Na realidade, há cerca de dez anos uma transição conceitual vem ocorrendo de maneira mais acentuada no modo de encarar a função da área. E como já abordamos em colunas anteriores mudanças podem gerar desconforto. Principalmente quando esta mudança é estrutural. E neste caso não se trata apenas de uma mudança estrutural, mas uma série de paradigmas que devem ser quebrados.
Durante décadas o foco das empresas era a elaboração dos processos, a parte gerencial, os resultados de modo geral e o desenvolvimento de habilidades diretamente ligadas à questão técnica. Hoje isto mudou e o foco deve ser nas pessoas. Nada mais normal em um mundo cada vez mais competitivo, onde há um nivelamento na qualidade da mão de obra e por inúmeros fatores a comunicação e a relação interpessoal está cada vez mais difícil. Contudo, há alguns itens que devem ser observados para que isto aconteça, dentre os quais está o preparo do gestor da área de recursos humanos.
O fato é que alguns gestores ainda não perceberam isto. Alguns já conseguiram enquanto outros simplesmente ignoram esta tendência. Há outros ainda que se encontram no meio do trajeto ou construindo uma ponte entre os dois pontos que separam a idéia da realização. Mas, dentre estes profissionais encontram-se aqueles que ainda não tomaram vulto da importância desta visão global e focam suas atenções apenas em processos, procedimentos, temas menos importantes e em clichês da área.
É preocupante quando em reuniões que participo ao invés de salientar os pontos que devem ser trabalhados e desenvolvidos alguns ficam mais preocupados em demonstrar ‘todo o seu conhecimento’ na área e abusam de termos ‘enlatados’.  Já ouvi frases tão recheadas destes termos que perderam totalmente o sentido. Coisa do tipo: “É importante vermos direito o ponto sobre treinamento, porque o target envolvido está fora do meu budget. Acho que esta questão interfere no turn over e nos processos e está diretamente ligada à Geração Y, que tem foco no fator sócio ambiental e no business.”
Confesso que não entendi nada e que fiquei um pouco assustado com a miscelânea gramatical e conceitual que me foi apresentada. Não tive a oportunidade, mas se pudesse teria dito a ela duas coisas: Por favor, mude seu foco. Menos clichês e mais visão. Mais gente e menos gestão.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O risco do elogio

Há uma máxima que é difícil lidar com críticas. Basta ouvir declarações de artistas, atletas, políticos e comentários de pessoas que são criticadas para perceber o quanto esta percepção é comum. Concordo com isto em certo ponto, pois não deve ser simples realizar bem seu trabalho lidando com críticas contínuas. Entretanto as críticas podem servir como alerta e estímulo para melhorias. Deve haver uma análise criteriosa e imparcial sobre a crítica recebida. Algumas delas servem para nos redirecionar e são recebidas de pessoas que querem realmente nosso crescimento, enquanto outras são propositadamente destinadas a nós com o único objetivo de nos desestruturar e são lançadas por pessoas que não se importam realmente conosco.
Contudo, quero usar este espaço para trazer uma visão um pouco diferente. Ter estrutura para lidar com críticas é difícil, mas ainda que não pareça, acredito ser bem mais difícil lidar com. elogios!!! Pode parecer estranho, mas analisando friamente, você verá que faz sentido.
Inevitável neste momento não citar a famosa frase de Santo Agostinho, que diz: ‘Prefiro os que me criticam porque me corrigem, aos que me adulam porque me corrompem’. Frase que parece bastante dura a princípio eu sei, mas que traz em si uma reflexão bem interessante. 
Perceba o seguinte: não estou dizendo que é ruim receber elogios e sim que é importante saber lidar de modo equilibrado com eles. Logicamente é bacana ouvir um elogio, felicitações por algo realizado, por um trabalho bem feito. Particularmente, quando recebo um elogio a sensação que tenho é a de dever cumprido, mas principalmente a de que minhas responsabilidades foram multiplicadas. Devemos sim aceitar os elogios e não rechaçá-los. Todavia devemos também ter o discernimento necessário para saber quando tal elogio é verdadeiro ou quando não passa de bajulação.
E é este ponto que quero salientar. O elogio pode ser traiçoeiro, já que mexe com um dos sentimentos que os seres humanos têm mais dificuldade em lidar: a vaidade. E aí as coisas ficam estreitas. O elogio alimenta a parte que os psicólogos chamam de ‘ego’, na realidade não apenas alimenta, mas vicia. É a ração ideal para a soberba, a prepotência e a empáfia. Faz com que pessoas julguem-se acima do bem e do mal, deixem de buscar seu auto desenvolvimento e faz algo ainda mais nocivo. Elogios escondem erros, fazem com que oportunidades de melhoria sejam ignoradas e atitudes megalomaníacas sejam tomadas. Um perigo para pessoas e empresas.
Mas como lidar com eles, os elogios, afinal? O correto seria lidar com serenidade e humildade, o que infelizmente é bem raro. O que vemos na maioria das vezes é a adoção de uma postura por parte do ‘elogiado’ de quem está acima do bem e do mal, aquela pessoa que se acha ‘ a última bolacha do pacote’ ou ainda aquela ainda pior, a da falsa modéstia, que esconde atrás do véu de simplicidade uma dose cavalar de arrogância. Entendeu o tamanho do perigo?

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Adianta?

Muitas pessoas, sem perceber, pautam sua vida em uma perigosa premissa. A de querer sempre agradar aos outros. Há algum tempo ouvi de uma pessoa muito querida, daquelas que passam na nossa vida e deixam uma marca positiva, um aprendizado consistente que não adiantava querer agradar a todos sempre. Por dois motivos: o primeiro porque isto é absolutamente impossível, já que quase que automaticamente ao agradar uns iremos desagradar outros e em segundo lugar porque muitas vezes para agradar alguém temos de desagradar a nós mesmos.
Todo este parágrafo inicial parece meio clichê, coisa de revista de banalidades, mas esta questão tem uma raiz bem mais profunda e repercute na nossa vida de um modo que não podemos imaginar. Desde pequenos somos educados, criados para atender às normas e padrões vigentes. Até aí nenhum problema, já que são importantes algumas diretrizes que nos possibilitem viver em comunidade. O problema é que ao tentarmos sempre nos ajustar aos padrões que nos são impostos por pais, professores, amigos e a sociedade de modo geral vamos aos poucos perdendo nossa individualidade. 
Em determinados momentos é importante que nossas capacidades, nossos desejos, nossos sonhos sejam priorizados. Contudo é justamente nestes momentos que diversas influências externas tendem a nos tirar do caminho, pois surge um terrível dilema: devo fazer isto? Mas o que os outros vão pensar? Talvez ‘fulano’ se chateie comigo... Isto é muito comum, por exemplo, na escolha de uma profissão, quando a pessoa quer fazer algo específico e é influenciada a fazer ‘um algo’ diferente daquilo. Conheço dezenas de pessoas que até hoje sofrem com isso. Em outros segmentos da vida, também não é diferente. Hoje pessoas colhem frutos, às vezes não muito saborosos, de escolhas que fizeram para agradar outras.
Relaxe. Isto é mais comum do que se imagina. Já aconteceu comigo, com você e com pessoas que conhecemos. Temos apenas de estar atentos para que isto não se torne uma constante. O ser humano tem uma necessidade enorme de ser aceito, de sentir-se bom o suficiente, sentir-se adequado ao contexto em que vive ou receber julgamentos positivos. O problema maior reside no fato de, sem percebermos, deixarmos de lado nossa real identidade, nossos reais desejos e seguirmos nosso caminho sendo guiados por desejos e sonhos que não são nossos.
Os resultados disto? Posso afirmar que nenhum muito positivo. Frustração, insatisfação, dificuldade de auto aceitação, pois agradando aos demais nos distanciamos do que somos e do que realmente queremos, o que em algumas situações gera uma terrível ruptura com padrões pessoais que nos norteiam e com nosso real propósito de vida. 
Enfim, um conflito interno que gera ansiedade, desmotivação, estresse, tristeza, angústia e outros sentimentos que são extremamente nocivos para a saúde física, emocional e mental. Ficam então algumas perguntas: Adianta? Será que de um jeito ou de outro não seremos julgados pelas pessoas? Não seria então mais adequado buscarmos os nossos sonhos? Então por que não fazemos isto? Vale refletir, não é?