quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Máscaras e disfarces

Confesso que certas coisas me incomodam um bocado. É inegável que a busca constante pelo desenvolvimento é algo fascinante, mas traz um ônus complicado de lidar. A tendência natural é ficarmos mais perceptivos e isso às vezes faz que não aceitemos qualquer coisa goela abaixo. 

De minha parte um dos maiores desafios têm sido não me tornar uma ‘personagem de mim mesmo’ ou uma ‘personagem que foi sendo escrito para mim pelas pessoas que compõem o enredo da minha vida’. Policio-me constantemente para que não vire uma caricatura de quem realmente sou e procuro não cair na armadilha muitas vezes irreversível de tornar-me um fantoche que quer sempre agradar aos outros. Sem nenhum tom de arrogância ou presunção, digo: Sou o que sou. Constantemente em busca de melhoria, justamente por estar ciente de minhas inúmeras, infindáveis e constantes imperfeições.

Em meu trabalho, com meus amigos, com minha família, sou o que sou. E ainda que cada um de acordo com sua ótica e sua essência me veja de uma maneira diferente, para mim continuo sendo o que sou. Com as vantagens e desvantagens que isto traz. Não se trata de falta de flexibilidade, mas sim em prezar por alguns valores e virtudes cardeais e principalmente ser transparente em demonstrá-los.  

Por bom senso procuro aliar a isto certa polidez e tolerância, mas não se engane. Este perfil pacificador e diplomático tem um limite bem definido por valores éticos e morais. Daí por diante se este limite for ultrapassado, como bom ariano que sou as coisas tomam outro rumo.
O paradoxo é que enquanto arduamente luto para não tornar-me um rascunho de mim mesmo, me deparo com pessoas que se esforçam exatamente para conseguir o contrário. São a reprodução mecânica e robotizada daquilo que as pessoas querem encontrar nelas.  Sem obviamente entrar no âmbito psicopatológico da questão, essas pessoas criam algo como uma ‘personalidade paralela’ e escondem-se sob um véu ou aura cuidadosamente alicerçada em palavras, gestos e ações que fortalecem a imagem que os demais têm ou querem ter delas. Isto pode até ser conveniente, mas o fardo de viver sendo quem não se é de verdade deve ser grande demais.

 O fato é que após algum tempo vivendo debaixo de uma máscara, vestindo um disfarce criteriosamente moldado, só há dois desfechos. O primeiro, que beira a insanidade é realmente acreditar que se é a figura que criou, fundindo criador e criatura em uma personalidade factóide. E o segundo é quando nas situações limite, não as de cunho emocional quando todos nós estamos sujeitos a reações desproporcionais, mas sim quando princípios e valores são questionados e deve haver um posicionamento. Aí a máscara acaba caindo, mesmo porque, não se consegue sustentar indefinidamente uma fraude.

O ruim é que ainda há algumas pessoas que não sei quem são. Não sei se são elas mesmas ou alguém que criaram. E é muito ruim lidar com pessoas assim. No meu caso, basta olhar bem fundo nos meus olhos. Gostando ou não do que vai encontrar, lá estará estampada a imagem cristalina de quem eu sou.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Caminhos inversos

Pode ser que gere certa polêmica. Esta reflexão veio semana passada, confesso com certa tristeza. Com a afirmação que farei é possível que Darwin, Lamarck, Lavoisier e tantos outros estudiosos se revirem em seus túmulos. Mas é fato. Talvez você a princípio me ache maluco, mas depois de certa análise concorde comigo. Há pessoas que involuem. Isso mesmo que você leu, algumas pessoas traçam em suas vidas caminhos inversos e acabam involuindo ao invés de evoluir. Chega a ser assustador, mas nem por isso, menos verdadeiro.

Repito que foi com pesar que cheguei a esta conclusão, tristeza mesmo. Principalmente por perceber que isto acontece com pessoas pelas quais tenho carinho, respeito e admiração. A involução sobre a qual me refiro às vezes não é total, mas se apresenta em áreas cruciais da vida do ser humano. Se analisarmos de maneira lógica, como seria possível alguém dar ‘passos para trás’ em sua jornada de vida? Como conceber que pessoas com um caminho tão promissor, com potencial de sobra contentem-se em viver de maneira tão vazia de perspectivas, tão medíocre? E o pior. Como fazer para que elas percebam o que estão (ou o que NÃO estão) fazendo com os dons e capacidades que o Pai Celestial lhes deu? Bem difícil.
Aqui mesmo neste espaço já afirmei que cada um é senhor de seu destino e que as escolhas pessoais dos outros não devem nos causar maiores dramas, já que são situações que não estão no nosso controle. Mas, mesmo assim chateia ver isso.

Contudo, já que não posso mudar a situação, procurei entender quais os motivos que levam isto a acontecer. E me vieram à mente dois motivos bem claros. O primeiro é a acomodação. Tanto para quem já atingiu certo patamar e acha que já sabe e conquistou tudo quanto para aquele que simplesmente desistiu de batalhar preferindo encostar-se em alguma alternativa ‘fácil’ que a vida lhe deu.

E o segundo e a meu ver o principal deles é o ambiente e o grupo de convívio da pessoa.  Por estudar e trabalhar atualmente com comportamento humano me impressiona o quanto este fator interfere na personalidade e no modo de encarar a vida de cada um. Diria até que este ponto multiplica exponencialmente a involução mencionada. 

Quando a acomodação está presente, mas o ambiente e o grupo de convívio são férteis, a pessoa consegue se desvencilhar deste inimigo e tocar sua vida adiante. O contrário é bastante difícil.

Para que se tenha idéia, o ambiente e o convívio podem alterar e até mesmo mudar, neste caso para pior, hábitos e padrões de comportamento.  Conheço pessoas que eram extremamente educadas e hoje perderam as mínimas noções de postura adequada em sociedade. Outras que tinham horizontes para ser explorados como se fossem águias, mas por estarem cercados de galinhas, acreditam ser uma delas e vivem a ciscar olhando para o chão, caçando migalhas. Pessoas que simplesmente pararam no tempo e continuam a nutrir crenças e paradigmas limitantes, que restringem absurdamente sua capacidade em ver o mundo de maneira ampla. O que mais incomoda em tudo isto é que infelizmente estas pessoas sequer esboçam a reação de olhar adiante e ver que ainda há muito a ser feito.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A bola

No final do mês passado fui convidado a escrever um texto que fará parte do livro Objetos e Memórias 2, voltado a fins assistenciais. O texto deveria ser sobre qual o objeto que mais marcou minha vida.  Nunca havia parado para pensar nisto. O objeto que mais marcou minha vida? Se fossem pessoas seria bem mais fácil. Contudo, ao parar para considerar tal fato e com a pronta e imediata concordância de minha mãe, não tive muita dificuldade para definir. Algo simples, contumaz, mas que gerou marcas e aprendizados permanentes para mim. Uma bola de futebol. 

Mas, afinal que significado tão especial isto poderia ter? Foi a bola que despertou em mim duas paixões que faço questão de nutrir até hoje. O futebol e o meu time, São Paulo Futebol Clube. Certamente foi este objeto (na realidade foram dezenas de bolas de futebol durante minha vida) e esta paixão instantânea que proporcionaram a oportunidade para que eu praticasse este esporte competitivamente por mais de 20 anos. E nesta trajetória aprendi algumas premissas que carrego comigo até hoje e que me norteiam em meu cotidiano. 

Aprendi sobre competitividade, sobre espírito de equipe, companheirismo, amizade, lealdade, deslealdade, garra. Aprendi a NÃO gostar de perder, mas também que há limites éticos nas estratégias usadas para ganhar. 

Percebi que para ter êxito tinha de ser melhor do que os que jogavam contra mim ou os que disputavam comigo a posição no time titular, mas que isto de nada adiantaria se não conseguisse ser, a cada dia melhor do que eu mesmo. Tive alegrias, tristezas, decepções, conheci bons amigos e tive o privilégio de participar de grandes combates, contra adversários fortes. Foram diversas vitórias heróicas e inesquecíveis e outras tantas derrotas amargas e tão inesquecíveis quanto. 

Tive de aprender sobre estratégia, tática, planejamento. E que ainda assim as coisas não saem bem como queremos, pois no futebol (e na vida) nem tudo está no nosso controle. Outros conceitos que aprendi, às vezes a duras penas? Coragem, determinação, superação, resignação, paciência, autoconfiança, dedicação, hombridade, honra. 

Tive a sorte de conviver com as mais variadas pessoas e ambientes, o que fez com que eu aprendesse respeitar as diferenças. Pude distinguir claramente o que se deve e o que não se deve fazer. E que nem sempre as coisas são tão justas. Ou melhor, que nem sempre acompanham o nosso conceito de justiça. 

Precisei diferenciar entre quando me defender, quando defender os outros e quando atacar. A ficar calado na hora certa e esbravejar, sempre com respeito, quando necessário. Meu status atual sobre futebol? Cada vez mais são paulino e me recuperando da segunda cirurgia no joelho (uma em cada um deles) em menos de um ano. Prova viva de que ainda hoje, muito do que sou para o bem e para o mal é devido a este objeto, a bola, que permeia o sonho de tantos jovens e que para mim, além de um passado feliz e saudoso faz parte de uma realidade que nunca vai se apagar. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lembrete

Ao ler estas próximas linhas, você estará na melhor das hipóteses no dia 04/02/2011. Até aí nenhuma novidade e caso esta data não seja seu aniversário ou haja algum compromisso especial marcado, trata-se de um dia como outro qualquer.

Contudo, para servir como um lembrete mesmo, digo que um mês deste ‘ano novo’ já se passou. Aproximadamente 10% dos dias do ano já escaparam pelo vão de seus dedos. E a pergunta é: lembra-se daqueeeelas promessas que fez para o ano novo? Estão em andamento?

Já se matriculou na academia ou no curso de inglês? Começou a dieta? Retomou os contatos que prometeu a si mesmo retomar? Prestou vestibular? Distribuiu os currículos para tentar uma nova chance ou uma mudança de ares profissionais? Passeou? Viajou? Leu os livros ou viu os filmes que estavam atrasados? 

É possível que várias destas coisas ainda não tenham sido feitas. Não se culpe. Faz parte do padrão usual do comportamento da maioria assustadora dos seres humanos. As festas de fim de ano servem como uma linha demarcatória, um novo ponto de partida onde na teoria parece ser o momento ideal para dar um basta em algumas coisas e priorizar outras. No entanto, se formos pensar friamente, para a mente inconsciente não passa de um dia depois de outro. Do dia 31 para o dia 1º, nada mudou. Naquele dia, amanheceu, anoiteceu, você comeu, bebeu (às vezes até demais), dormiu. Tudo o que sempre faz nos outros 364 dias do ano. Portanto, para sua mente inconsciente foi um dia comum. Só o seu consciente sabia que se tratava de uma data ‘diferente’. O que quero dizer com isso?

 Fique atento. Se não perceber daqui a pouco mais um ano se passou e mais uma vez muitas coisas, ficarão pelo caminho. Foi assim em 2009, 2008, 2007... Entretanto, tenho uma boa notícia. Historicamente, pessoas que conseguiram realizar seus sonhos, desejos e conquistar seus objetivos conseguiram isto em curtos espaços de tempo. Mesmo aquelas que começaram tarde, na maioria das vezes chegaram lá. 

Sabe como algo mágico parece que acontece? Como se na realidade nossos sonhos estivessem ali parados só esperando que fôssemos buscá-los? Mais ou menos assim. Conheço pessoas que se realizaram depois dos 60 anos, outras que antes dos 30 já se consideravam plenas. Até porque estamos falando de conceitos subjetivos. Felicidade, realização, conquistas, tudo que diz respeito a conceitos puramente pessoais. 

Ressalto a importância de buscar o que se deseja. Não deixe as coisas para depois, faça o que tem de ser feito, por mais difícil e trabalhoso que pareça. Você perceberá que como em uma brincadeira de Lego ou no bom e velho ‘cubo mágico’ uma simples mudança de ‘peças’, uma pequena alteração no cenário atual gera automaticamente um ‘encaixe’ de outras peças que a princípio nada tinham a ver com a situação, mas que se acomodam em conseqüência de uma atitude. Experimente. Faça algo que se comprometeu a fazer. E verá como o panorama se altera. Você vai adorar esta experiência.