sexta-feira, 17 de junho de 2011

O risco do elogio

Há uma máxima que é difícil lidar com críticas. Basta ouvir declarações de artistas, atletas, políticos e comentários de pessoas que são criticadas para perceber o quanto esta percepção é comum. Concordo com isto em certo ponto, pois não deve ser simples realizar bem seu trabalho lidando com críticas contínuas. Entretanto as críticas podem servir como alerta e estímulo para melhorias. Deve haver uma análise criteriosa e imparcial sobre a crítica recebida. Algumas delas servem para nos redirecionar e são recebidas de pessoas que querem realmente nosso crescimento, enquanto outras são propositadamente destinadas a nós com o único objetivo de nos desestruturar e são lançadas por pessoas que não se importam realmente conosco.
Contudo, quero usar este espaço para trazer uma visão um pouco diferente. Ter estrutura para lidar com críticas é difícil, mas ainda que não pareça, acredito ser bem mais difícil lidar com. elogios!!! Pode parecer estranho, mas analisando friamente, você verá que faz sentido.
Inevitável neste momento não citar a famosa frase de Santo Agostinho, que diz: ‘Prefiro os que me criticam porque me corrigem, aos que me adulam porque me corrompem’. Frase que parece bastante dura a princípio eu sei, mas que traz em si uma reflexão bem interessante. 
Perceba o seguinte: não estou dizendo que é ruim receber elogios e sim que é importante saber lidar de modo equilibrado com eles. Logicamente é bacana ouvir um elogio, felicitações por algo realizado, por um trabalho bem feito. Particularmente, quando recebo um elogio a sensação que tenho é a de dever cumprido, mas principalmente a de que minhas responsabilidades foram multiplicadas. Devemos sim aceitar os elogios e não rechaçá-los. Todavia devemos também ter o discernimento necessário para saber quando tal elogio é verdadeiro ou quando não passa de bajulação.
E é este ponto que quero salientar. O elogio pode ser traiçoeiro, já que mexe com um dos sentimentos que os seres humanos têm mais dificuldade em lidar: a vaidade. E aí as coisas ficam estreitas. O elogio alimenta a parte que os psicólogos chamam de ‘ego’, na realidade não apenas alimenta, mas vicia. É a ração ideal para a soberba, a prepotência e a empáfia. Faz com que pessoas julguem-se acima do bem e do mal, deixem de buscar seu auto desenvolvimento e faz algo ainda mais nocivo. Elogios escondem erros, fazem com que oportunidades de melhoria sejam ignoradas e atitudes megalomaníacas sejam tomadas. Um perigo para pessoas e empresas.
Mas como lidar com eles, os elogios, afinal? O correto seria lidar com serenidade e humildade, o que infelizmente é bem raro. O que vemos na maioria das vezes é a adoção de uma postura por parte do ‘elogiado’ de quem está acima do bem e do mal, aquela pessoa que se acha ‘ a última bolacha do pacote’ ou ainda aquela ainda pior, a da falsa modéstia, que esconde atrás do véu de simplicidade uma dose cavalar de arrogância. Entendeu o tamanho do perigo?

Um comentário:

  1. Este colunista sempre nos acrescenta brilhantemente. Correio, lembre-se de sempre mantê-la atualizada, sinto falta quando pula uma semana de publicação.

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