domingo, 15 de maio de 2011

Você é ‘do ramo’?

Antigamente, era muito comum ao final do anúncio de algum produto ouvir o locutor dizer: ‘Disponível nas melhores casas do ramo’. Hoje este termo caiu em desuso e pode até ser substituído, ainda que não integralmente, por setor, segmento ou área. Mencionei este fato porque em textos anteriores disse que é fundamental fazer o que se gosta, para que tenhamos sempre o tal ‘brilho nos olhos’.
Antes de concluir o raciocínio, foi inevitável que voltasse à minha memória uma história de quando eu era garoto e jogava futebol competitivamente. Tive um técnico, hoje falecido, que era militar. Militar mesmo, tenente do exército. Imagine um tenente treinando crianças para jogar futebol. Pior que saía coisa boa. E fui descobrir bem mais tarde o quanto algumas destas coisas que aprendi eram importantes. 
Mas o fato que quero mencionar acontecia, via de regra, quando algum garoto ia fazer testes, a famosa ‘peneira’ e não passava. Alguns pais, muitos deles tentando concretizar seu próprio sonho através do filho, ficavam irritados e às vezes até grosseiramente interpelavam meu treinador, Sr. Geraldo sobre qual era o motivo da dispensa do filho. Eis que o Sr. Geraldo de modo bem educado e paciente dizia: “Olha, meu senhor, seu filho é um garoto bacana, mas ele não é ‘do ramo’. Talvez ele seja bom em basquete, vôlei, seja um bom desenhista, músico, mas em relação ao futebol, ele não é do ramo”.
Sinceramente achava aquilo duro demais. É possível até que alguns bons jogadores tenham sido equivocadamente avaliados por ele, mas hoje entendo perfeitamente o que ele queria dizer. Não adianta forçar a barra, pois algumas pessoas não combinam com determinadas atividades. Veja bem, acredito que é possível desenvolvermos novas habilidades, novas competências e nos aprimorarmos bastante, mas há algo inato, algo intrínseco que acaba sendo o grande diferencial. 
Imagine o seguinte: Posso tentar aprender a jogar tênis. Certamente desenvolverei habilidades, mas jamais serei um exímio tenista. Posso aprender tocar piano, mas não serei pianista. Dá para perceber a diferença? É aí que reside a grande questão. Tocar piano é diferente de ser pianista. Pessoas que não são do ramo, conseguirão ser na melhor das hipóteses medianas, esforçadas ao realizar seu trabalho. Pode até haver transpiração, o que é importantíssimo, mas dificilmente haverá inspiração, aquilo que diferencia uma pessoa ‘acima da média’ das pessoas comuns naquilo que fazem. 
Seria maravilhoso que cada ser humano tivesse consciência de suas potencialidades, investisse em seus talentos e habilidades e fizesse o que gosta. Infelizmente, o que vemos são pessoas direcionadas por pais ou familiares a seguir um caminho, guiadas unicamente pelo apelo financeiro ou pior, desenvolvendo atividades sem saber o porquê e para as quais não estão motivadas e muito menos capacitadas. 
Contudo, para isso é necessária uma autocrítica imparcial, uma dose extra de sinceridade consigo mesmo e uma coragem interior enorme para realmente admitir que não somos talhados para determinada função. Difícil, não é?

Um comentário:

  1. Grande Zé Carlos e sua "Incrivél cabeça animal",felizes aqueles que percebem a propria vocação! E grande sorte aos que demoram a descobrir o que realmente fazem por inspiração pura e conseguem conciliar isso com a técnica!

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