sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Escassez


llDe todo este episódio do ‘mensalão’, questões políticas à parte, um dos fatos que mais me chamou a atenção, além do clamor popular por punições severas foi a repercussão que a postura do Ministro do Supremo Joaquim Barbosa obteve, mesmo entre pessoas até certo ponto alheias a todo o contexto do julgamento.
Perceba, não é meu objetivo mencionar a performance jurídica do caso, mas sim chamar a atenção para um ponto um pouco mais sutil de toda essa situação. Qual seria o motivo de uma pessoa ser tratada como herói por pessoas que até pouco tempo atrás sequer sabiam da existência de um Supremo Tribunal Federal?
Também não vem ao caso se o tratamento destinado ao nobre Ministro é justo ou não, mas confesso que uma coisa me veio à cabeça. O quanto nosso país é carente de bons exemplos. Vale salientar que parece claro que Joaquim Barbosa não tem sido reconhecido por ser negro (o primeiro da história do país) e de origem humilde. Ele já poderia ter sido reconhecido por este notável feito desde 2003, quando passou a exercer sua função como Ministro no Supremo Tribunal de Justiça.
O seu reconhecimento vem da força implacável, para o bem ou para o mal, com que está conduzindo aquele considerado o maior julgamento da história do país. A postura de alguém que busca incessantemente o bem da maioria. 
Uma coisa é certa. Todos nós precisamos de exemplos. O ser humano é assim. Busca similaridades, alguém a quem possa espelhar. Só há um problema nisso. De um jeito ou de outro acabamos elegendo alguém como exemplo. E se não temos exemplos verdadeiramente fiéis ao que podemos julgar como sendo o correto, podemos nos tornar o reflexo daquilo que não deve ser seguido.
Do mesmo modo que Guga Kuerten mobilizou milhares de crianças a jogar tênis, que Ayrton Senna nos trouxe de volta o patriotismo e que Madre Teresa, Dalai Lama e Gandhi são considerados ícones da defesa da paz e dos seres humanos, precisamos também de outros exemplos. As pessoas precisam de alguém para se inspirar, algum herói, da vida real ou das histórias. Alguém que as faça perceber que as coisas são possíveis.
Isso acontece só em nossa vida pessoal? Claro que não. No trabalho é a mesma coisa.
Segundo dados obtidos com pesquisa realizada durante o Congresso Nacional de Recursos Humanos (Conarh 2012), para 87% de líderes atuais de grandes empresas, no Brasil não há líderes suficientes para lidar com os desafios atuais e futuros das organizações. 
Não é apenas a suposta efervescência da economia brasileira e o aumento da demanda que explicam esse déficit. Esse contexto tem origens mais abrangentes. 
Há uma escassez de líderes que podem ser considerados exemplares, diferentes, capazes de criar oportunidades, perspectivas e envolver, engajar as pessoas na busca de ideais. Faltam líderes que sirvam de exemplo em nosso país. Nas empresas, então, nem se fale. Faltam mais heróis em nossa vida, pessoas humanas que façam a diferença. Eu, posso me considerar privilegiado. Conheço um bocado destes heróis.

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