sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A bola

No final do mês passado fui convidado a escrever um texto que fará parte do livro Objetos e Memórias 2, voltado a fins assistenciais. O texto deveria ser sobre qual o objeto que mais marcou minha vida.  Nunca havia parado para pensar nisto. O objeto que mais marcou minha vida? Se fossem pessoas seria bem mais fácil. Contudo, ao parar para considerar tal fato e com a pronta e imediata concordância de minha mãe, não tive muita dificuldade para definir. Algo simples, contumaz, mas que gerou marcas e aprendizados permanentes para mim. Uma bola de futebol. 

Mas, afinal que significado tão especial isto poderia ter? Foi a bola que despertou em mim duas paixões que faço questão de nutrir até hoje. O futebol e o meu time, São Paulo Futebol Clube. Certamente foi este objeto (na realidade foram dezenas de bolas de futebol durante minha vida) e esta paixão instantânea que proporcionaram a oportunidade para que eu praticasse este esporte competitivamente por mais de 20 anos. E nesta trajetória aprendi algumas premissas que carrego comigo até hoje e que me norteiam em meu cotidiano. 

Aprendi sobre competitividade, sobre espírito de equipe, companheirismo, amizade, lealdade, deslealdade, garra. Aprendi a NÃO gostar de perder, mas também que há limites éticos nas estratégias usadas para ganhar. 

Percebi que para ter êxito tinha de ser melhor do que os que jogavam contra mim ou os que disputavam comigo a posição no time titular, mas que isto de nada adiantaria se não conseguisse ser, a cada dia melhor do que eu mesmo. Tive alegrias, tristezas, decepções, conheci bons amigos e tive o privilégio de participar de grandes combates, contra adversários fortes. Foram diversas vitórias heróicas e inesquecíveis e outras tantas derrotas amargas e tão inesquecíveis quanto. 

Tive de aprender sobre estratégia, tática, planejamento. E que ainda assim as coisas não saem bem como queremos, pois no futebol (e na vida) nem tudo está no nosso controle. Outros conceitos que aprendi, às vezes a duras penas? Coragem, determinação, superação, resignação, paciência, autoconfiança, dedicação, hombridade, honra. 

Tive a sorte de conviver com as mais variadas pessoas e ambientes, o que fez com que eu aprendesse respeitar as diferenças. Pude distinguir claramente o que se deve e o que não se deve fazer. E que nem sempre as coisas são tão justas. Ou melhor, que nem sempre acompanham o nosso conceito de justiça. 

Precisei diferenciar entre quando me defender, quando defender os outros e quando atacar. A ficar calado na hora certa e esbravejar, sempre com respeito, quando necessário. Meu status atual sobre futebol? Cada vez mais são paulino e me recuperando da segunda cirurgia no joelho (uma em cada um deles) em menos de um ano. Prova viva de que ainda hoje, muito do que sou para o bem e para o mal é devido a este objeto, a bola, que permeia o sonho de tantos jovens e que para mim, além de um passado feliz e saudoso faz parte de uma realidade que nunca vai se apagar. 

Um comentário:

  1. Como sempre, Zé, você me fez parar e pensar. Sem dúvida alguma, meu objeto é a caneta. Agora vou correr para escrever sobre isso. Grande Abraço.

    Dani.

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