quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Interstícios e Flores


Não sei se isto é claro para todos, mas a vida é feita de ciclos. Alguns muito bons, auspiciosos, prósperos e outros nem tanto. Ainda assim conseguimos ou deveríamos tirar proveito de cada um deles. Os tais ciclos perduram por certo período (muitos deles por aproximadamente sete anos, pode reparar) e podem abranger as mais diversas áreas da nossa vida. Pessoal, afetiva, financeira, profissional, social. Parece que é o tempo aproximado para que ganhemos maturidade suficiente, seja pelo amor ou pela dor, para seguirmos adiante e entrarmos de vez na nova fase que se apresentará.
Quando falo em ciclos, falo desde o início, quando as coisas ainda são idéias, sonhos, aspirações, objetivos, passando pela fase onde já há algum movimento no sentido de colocar tais coisas em prática, chegando ao processo de desenvolvimento, de sedimentação e concretização e por fim de saturação, culminado ora com um desfecho, ora com a opção de continuidade. 
Mesmo quando não há o desfecho e sim a continuidade, há uma reCICLAGEM, daí a origem da palavra. É quando damos uma ‘repaginada’ para que aquele balão consiga voar até completar sua jornada. Se o desfecho, a cisão, a ruptura ocorre é porque estamos buscando novos sonhos, novos horizontes, que podem estar baseados em pilares construídos no ciclo anterior, mas que certamente serão maiores e mais amplos, pois trazemos conosco o aprendizado do que se passou. Em tese, temos mais discernimento e novo fôlego, novo ânimo para conseguirmos o que almejamos. Basta então seguir em frente, não é? Nem sempre.
Há uma fase de transição que entremeia um ciclo e outro. Este interstício é um período bastante complicado. É onde nossa autocrítica, nossa autocobrança, coisas das quais nos arrependemos de termos ou não termos feito afloram, quando achamos que poderíamos ter feito diferente, ter sido mais ‘assim ou assado’, achando que deveríamos ter encerrado antes e até mesmo nos perguntando como agüentamos tanto tempo e como não víamos algumas coisas que hoje são tão nítidas.
Este período muitas vezes parece nebuloso e demasiadamente demorado. Semelhante quando a primavera está ansiosa em chegar, mas o frio, a escuridão e as brumas do inverno insistem em permanecer pairando, tornando esta passagem dolorosa e aparentemente deixando aquele cenário repleto de sol e flores que no fundo sabemos que vamos encontrar parecer mais distante do que realmente está.
Este sentimento que ocorre nestas fases é necessário e salutar. É quando paramos para rever e repensar em algumas coisas. Quando reavaliamos nossos próximos passos. Ás vezes nos sentimos em dúvida se devemos prosseguir, se é aquilo mesmo que devemos fazer, mas tudo isto faz parte do crescimento e do desenvolvimento. 
Que bom que temos esta chance. Que bom que existem PESSOAS DO BEM para fazer esta travessia ao nosso lado. Quando a névoa e a escuridão se dissipam, as flores, mesmo aquelas que se sentiam sem vida, tornam-se novamente lindas e belas e voltam a irradiar seu brilho. Muito mais fortes e cheias de vida do que antes.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A culpa é sua?


Hoje optei por abordar um tema espinhoso, mas que é recorrente e faz parte da vida de todo ser humano. E talvez você me pergunte: ‘Todo ser humano? Você não está generalizando, José Carlos?’- Sim, estou. Todos nós em algum momento já sentimos isso. Digo mais: Muitos de nós fomos criados com base neste sentimento ardil. Culpa. 
Então, para iniciarmos a prosa, lá vai a definição do dicionário: ‘É o sentimento de sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável, baseado na frustração causada pela imagem criada daquilo que achamos que deveríamos ter sido.’ Entendeu? Se não entendeu, repare apenas nas quatro palavras que grifei. Tá bom ou quer mais? Sofrimento, reavaliação, reprovação e frustração. Some-se a estes sentimentos outros que estão correlacionados como autocrítica, repressão, mágoa e perceba o estrago que isto causa.
Poucos dão a devida atenção a este sentimento, mas ouso dizer que é um dos que mais atrapalham nossa vida. E digo mais: É um dos mais difíceis de lidar, de ser trabalhado internamente. Os motivos são simples: Primeiro a facilidade com que as pessoas têm em nos repreender, desde sempre, quando algo não sai exatamente como deveria. Pais, professores, amigos, familiares. Nosso senso de perfeccionismo e autocrítica então vem e nos coloca ainda mais para baixo. 
O segundo é a questão cultural mesmo. A cultura ocidental predominantemente e uma boa parte das culturas orientais se baseiam na culpa. As religiões instituídas multiplicam esta sensação exponencialmente. Pecado, castigo, punição, dívida. Já nascemos do pecado e carregamos isto conosco às vezes por toda a vida. Exagero? Creio que não. Ainda mais quando levamos em consideração que é algo que acontece há séculos, que herdamos de nossos antepassados, que está impregnado em nossas células, que paira no ar.
 As culpas que sentimos o tempo todo, a sensação de que temos de nos redimir mesmo muitas vezes sem saber de quê são apenas resquícios de uma culpa atroz e gigantesca que recai sobre nossos ombros e que por nossa pequenez frente a um Universo tão grandioso jamais teremos condições de lidar. E cá entre nós, nem temos de lidar.
Com base nisto, a sociedade se baseia em uma infinidade de padrões, que variam de um lugar para outro, mas que invariavelmente temos de nos adequar, ainda que em grande parte das vezes não sejamos preparados para isto pela família, pelos educadores e pela falta de exemplos a quem podemos nos espelhar. Nós seres humanos somos uma obra inacabada e obviamente somos responsáveis por nossos atos e suas conseqüências. Isto por si só já traz uma responsabilidade suficientemente grande. 
Por este motivo, não aceite gratuitamente o sentimento de culpa que alguns insistem em nos colocar nos ombros. Cada um é responsável pelo seu destino e ninguém é obrigado a carregar o fardo alheio. Você pode até ajudar, mas deve ser uma opção sua. É a mesma prerrogativa que tem em dizer não e seguir sua vida adiante. De hoje em diante fique atento em quem quer por a culpa pelo próprio fracasso nas suas costas. E definitivamente, não aceite. Mas, sem sentir-se culpado por isto, ok?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um dia a mais ou a menos?


Primeiramente, bom dia. Não sei quando, onde ou em que circunstâncias você está lendo este texto. Não sei também se ao final você irá gostar ou não dele. Obviamente é muito provável que também não o conheça pessoalmente. Mesmo com toda esta falta de informações a seu respeito sei algo sobre você que é inexorável: Se você está sendo agraciado com o dia de hoje é porque ainda tem algo a fazer.
Pode parecer piegas em um primeiro momento, mas pare e pense: É ou não é verdade? Talvez você ainda não saiba muito bem o que é, menos ainda como vai chegar até lá, mas que você tem algo a fazer, ah isso tem.
Aliás, talvez sejam estas algumas das maiores angústias do ser humano. Não saber ao certo a que veio e muito menos quanto tempo resta para descobrir e efetivamente fazer o que deve ser feito. Um dia a mais que vivemos é um dia a menos que temos para viver. Com base neste raciocínio, pare e pense. Não seria sem sentido a vida se não houvesse um propósito maior?
Tá, tudo bem, concordo que seja bacana em muitos momentos viver. Quando estamos com quem gostamos ou fazendo as coisas que gostamos, passeando, , dando gostosas gargalhadas, ou seja, lá o que for. Contudo, há o outro lado da moeda. Dificuldades, lágrimas, sofrimento, incerteza. Faz parte. Não haveria aprendizado se não fosse assim.
Mas, sendo bem objetivo: Você sabe o porquê Dele, Deus, ter permitido a você mais um dia? Sabe qual sua missão aqui na Terra?  Pois é: Esta é a pergunta que provavelmente mais de 80% das pessoas não sabe responder. E dos outros 20% pelo menos metade apenas acha que sabe, pois arrumou um modo mais fácil de fugir deste questionamento. Simplesmente aceitou o destino que lhes foi imposto e acha que é assim mesmo, não há nada a fazer para mudar tal sorte.
Isto é perfeitamente compreensível. É muito mais cômodo atribuir nossos insucessos a fatores externos, a outras pessoas ou a um Deus que supostamente está querendo nos fazer passar por ‘provações’. É mais fácil reclamar da vida e achar que a recompensa virá quando ‘passarmos desta para uma melhor’. 
Buscar o que se deseja, ir a fundo para se entender o que realmente viemos fazer nos traz um custo. Só o fato de tentar ser diferente da maioria já traz desconforto. Vivemos buscando caminhos, mas caminhos são trilhas que nos levam a outros caminhos. Este ciclo se repete insistentemente e a jornada só termina quando estamos realmente alinhados ao que realmente viemos fazer neste mundo.
Há também aqueles que no fundo sabem o que tem de ser feito, mas não acreditam em sua intuição, em seu potencial ou acham penoso demais o caminho para alcançar seus objetivos. A pergunta que cabe nestas situações é: Até onde você está disposto a ir para alcançar seus sonhos?  Ressalto que não estou falando apenas de conquistas materiais, mas de algo que transcende isto. Existe algo que fez com que Ele lhe trouxesse a este mundo. Cabe a você desvendar este enigma e ser digno da missão que lhe foi confiada. E ao final de cada dia se perguntar: Este foi um dia a mais que usei da melhor forma possível ou um dia a menos que tenho para descobrir o que quero?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Paralelos

Olá! Já comentei algumas vezes neste espaço sobre toda a mudança de trajetória profissional que ocorreu na minha vida há alguns anos que fez com que eu abdicasse da Odontologia, carreira que gostava e respeitava muito e enveredasse para o segmento de treinamentos e desenvolvimento humano com ênfase na área comportamental.
Nestes últimos dias estive fazendo paralelos entre os desafios de exercer as duas profissões em âmbitos diferentes. A Odontologia requer muito conhecimento técnico, muita base conceitual, rapidez de raciocínio e destreza manual impressionantes. Além é claro de uma responsabilidade enorme em lidar com a saúde do ser humano. Não muito diferente, minha atual área de atuação requer alguns destes atributos atrelados a uma responsabilidade tão grande quanto, visto que ao falarmos sobre comportamento humano, o compromisso em vivenciarmos em nosso cotidiano o que dizemos é colossal. Então percebi que há dois fatores ainda mais fortes em comum entre ambas. O altíssimo nível de ‘auto exigência’ e de exigência dos outros para conosco.
Nada mais lógico. Se falo sobre comportamentos tenho de ter domínio sobre tudo isto e ser exemplo daquilo que digo. É fato. Só há uma variável em relação a isto. Sou humano. E erro. Muito. Sempre busquei deixar claro isto. Quando somadas a um compromisso pessoal de vivenciar a coerência entre o que faço e o que falo, estas exigências e olhares surpresos de pessoas próximas que não imaginam que possamos passar por problemas corriqueiros formam um turbilhão de pensamentos que passeiam livremente pela minha ‘cabeça animal’.
 Costumo dizer que sou um eterno aprendiz. E foi justamente este pensamento que somado a um equilíbrio que se mostrou bem maior do que imaginava ter fizeram com que as coisas que ultimamente tem ocorrido se amenizassem internamente. Além do mais, fique claro que trabalhar e estudar comportamento humano não me dá nenhuma prerrogativa extra ou ‘super poderes’. Traz mais responsabilidade, isso sim. Percebi que me cobrar em demasia neste sentido seria mais ou menos a mesma coisa de achar que por ser dentista jamais teria problemas de saúde bucal ou que médicos jamais ficam doentes e advogados não podem ter problemas jurídicos.
Sou um ser humano em formação. Que busca melhoria e evolução. E só. Procuro seguir princípios morais e éticos e manter minha retidão de conduta. Entretanto retidão não é a mesma coisa que linearidade. Há pessoas totalmente lineares em seus comportamentos. O problema é adotam uma linha não muito recomendável. 
Hoje acredito em coisas que não acreditava ontem. Talvez amanhã acredite em outras, diferentes das de hoje. Aliás, me dou o direito de ser contraditório. É assim que aprendo e amadureço. Não vejo isto como instabilidade e sim como uma possibilidade estar em constante desenvolvimento e de enriquecer minha jornada, que compartilho com tantos companheiros. O que não muda é a linha de conduta. Esta está acima dos comportamentos.