quinta-feira, 24 de março de 2011

Boa surpresa

A vida é cheia de surpresas. Umas muito boas, outras nem tanto. Penso eu, contudo que nenhuma delas aleatória e grande parte traz ao menos implicitamente um significado maior. Cabe a nós estarmos atentos a isto. Nesta última semana uma destas surpresas, felizmente uma das boas, aconteceu comigo.
Comentei aqui que atualmente trabalho na área de treinamentos e desenvolvimento humano, mais especificamente na área comportamental. Estes treinamentos são frequentados por pessoas dos mais diversos lugares, idades, classes sociais que possuem um objetivo em comum. Ser melhores. Ter novas atitudes, novos comportamentos, buscar soluções para situações que trazem incômodos e desenvolver novas perspectivas em sua vida profissional e seu contexto pessoal. 
Como boa surpresa, tive a oportunidade de reencontrar um grande amigo que se inscreveu para o curso sem que eu soubesse que ele iria e sem que ele soubesse que iria me encontrar trabalhando. O detalhe é que trata-se de um amigo que estudou comigo na faculdade, dividiu a ‘república’ que formamos e compartilhou momentos muito bacanas de uma época muito especial. Fazia aproximadamente 8 anos que não nos encontrávamos, apesar de durante este período morarmos e trabalharmos muito próximos. Fomos afetados por este mundo maluco, competitivo e dinâmico que vivemos e pelas circunstâncias deste cotidiano apressado que por mais que tentemos evitar acaba nos privando de coisas muito especiais.
O reencontro foi muito legal. Muitas pessoas costumam usar o termo ‘amigo’ de forma abrangente e até mesmo banalizada. Particularmente, penso que amigo, amigo mesmo tem algumas características que o diferenciam de colegas ou de pessoas que convivemos e pelas quais temos grande apreço. Amigo tem um quê de irmão, sem compartilhar o sobrenome. Sabemos que estamos diante de um amigo quando mesmo há muito tempo sem encontrá-lo conversamos, rimos e nos tratamos como se tivéssemos estado juntos no dia anterior. Porque a real amizade transcende tempo e obstáculos. Amigo se entende no olhar, sorri junto, sabe quando falar e quando silenciar. Sabe inclusive como falar. Respeita a personalidade do outro e apóia quando necessário, com a prerrogativa tacitamente estipulada de discordar quando for preciso. Amigo é aquele que nos conhece completamente e ainda assim gosta de quem somos.
Amigo sabe até se afastar, dar um tempo para que as coisas sejam processadas.  Amigo é versátil, flexível, imprescindível. Amizade não tem vaidade, ego, competição. Mario Quintana dizia que ‘ A amizade é um amor que nunca morre’. Esta boa sincronicidade que a vida me trouxe e que já começo a entender o propósito, me fez assumir um compromisso comigo mesmo.
Semanalmente entrarei em contato com ao menos um dos meus amigos, prioritariamente com os que há tempos não encontro. Um telefonema, uma visita, um bate papo. Algo que sirva para nutrir este bem precioso chamado amizade e principalmente para reforçar este sentimento tão nobre, salientar a importância destas pessoas em meu caminho e relembrar momentos que foram marcantes em minha vida.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Epifania

Novamente falarei sobre um assunto que dificilmente em poucas linhas conseguiremos esgotar. Aliás, propositadamente abordo alguns assuntos aqui para gerar reflexão e principalmente suscitar algumas novas buscas por parte daqueles que lêem. Mesmo porque minha opinião não deve servir como referência, afinal é apenas mais uma dentre tantas outras. Defendo o conceito da liberdade de pensamento. Sem amarras, sem restrições, sem vendas nos olhos. Por mais que o título talvez não seja comum a todos, no final das contas ouso afirmar que você certamente sabe o que é, já passou por isso e talvez conheça por outro nome.
Epifania é uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência de algo utilizado normalmente para indicar que alguém encontrou a peça que faltava do quebra-cabeça e agora consegue ver a imagem completa. Sabe quando de repente, (aparentemente) do nada, surge algo brilhante em sua mente? Uma idéia genial, uma compreensão maior, a resolução para aquela questão que tanto perturbava. Alguns conhecem como ‘insight’ outros chamam simplesmente de intuição. Saliento, no entanto que em breve falaremos mais sobre intuição e a epifania é apenas um (magnífico) componente da intuição.
Este mesmo termo é usado em diversas tradições filosófico-religiosas, que inclusive afirmam que epifania é uma manifestação divina. Mas não é minha intenção abordá-la com esta conotação. A menos que, como eu, você acredite que é uma pequena fagulha do Pai Celestial. Aí sim, em um âmbito que não está restrito a nenhuma corrente específica, este termo toma o vulto que merece, pois é aplicado exatamente quando um pensamento inspirador acontece, único, que parece ser divino em natureza e nos dá a (verdadeira) impressão que a Mente Maior se manifestou em nós por meio de uma súbita iluminação.
Para que possamos exemplificar melhor o significado de momentos de epifania, podemos recorrer ao famoso ‘Eureka’ de Arquimedes ou da percepção de Alexander Fleming ao observar sua cultura de bactérias tomada por fungos e daí criar a penicilina. O fato é que em algumas situações, os momentos epifânicos são deliberadamente ignorados, pois podem originar quebras de paradigmas, ruptura de valores, questionamentos existenciais.  Pode aproximar realidades que pareciam até então opostas e inadmissíveis para nosso modo cartesiano de pensar, agir e conduzir nossa vida.
Uma epifania gera turbulência interna porque significa exatamente um instante de sincronicidade, algo que pode simbolizar um sinal de que nossa rota está totalmente distante do ponto em que merecemos e devemos chegar. Pode trazer de maneira cristalina nosso real caminho. Porém, nem sempre o caminho mais certo é o mais fácil e é inevitável que tenhamos de mudar. Como? Quando? Desculpe, mas seria presunção minha responder. Basta que se permita ter seus momentos de epifania, desprendendo-se de seu ego, de seus pré conceitos acerca de si mesmo e conectando-se com a Fonte Maior, de onde nos chegam todas as respostas. Mesmo que sejamos insistentes em ignorá-las.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Comprometimento

  Atualmente as empresas que prestamos consultoria  focam em um ponto bastante nevrálgico da relação profissional, mais especificamente na relação empresa-funcionário chamado comprometimento. As frases que mais ouço é que os colaboradores precisam ser mais comprometidos com a equipe, com os resultados, com a empresa e blá, blá, blá. Parece simples, não é? Pega-se a equipe ou a pessoa, presta-se algum treinamento ou consultoria e... ‘tchãran’... Pronto!!! Eis aqui uma nova equipe/ pessoa, totalmente comprometida...
Antes fosse assim. Quando falamos em comprometimento a questão é bem mais elaborada. Há uma frase de um líder militar norte americano chamado Norman Scharzkopf que diz que “A verdade é que todos sabem a coisa certa a fazer. A parte difícil é fazê-la”.  Isso é bastante plausível. Na maioria imensa das vezes, as pessoas sabem exatamente o que devem fazer, da maneira que devem fazer. São competentes na função que executam, treinadas para isso, sobrevivem financeiramente dos resultados gerados pela atividade profissional que desenvolvem. Alguns são tecnicamente imprescindíveis para a equipe. E mesmo assim, não fazem o que deve ser feito, da maneira correta.
A dúvida então permanece. Por que as pessoas não fazem o que devem fazer? Por que não são comprometidas com o trabalho? Na minha humilde percepção há diversos fatores que colaboram para que isto aconteça, mas um deles, normalmente o que menos é observado pelos gestores é o que causa maior desequilíbrio nas empresas, no que diz respeito ao tal comprometimento. Qual?
Simples. As pessoas não são comprometidas nem consigo mesmas. E a questão se torna matemática. Se não são comprometidas nem com seus objetivos pessoais, o que nos leva a crer que serão comprometidas com os objetivos da empresa?  Ilusão. É só o gestor dar uma avaliada um pouco mais criteriosa no time que tem, que isto que acabei de pontuar ficará assustadoramente evidente.
Pode observar. Em grande parte dos casos, não há o mínimo cuidado com a própria saúde, com a imagem pessoal, com a congruência, com bens pessoais, com a vida financeira, com o cumprimento de metas e prazos. Infelizmente as pessoas não vivem, apenas sobrevivem. Se não são comprometidas com sua própria vida, como serão com resultados de outros?
Ganham o essencial para viver e satisfazer alguns desejos de consumo (geralmente supérfluos), não vislumbram possibilidades de desenvolver-se e limitam-se a fazer de modo bastante básico suas atribuições. Não existem aspirações maiores. 
E talvez este ponto de vista gere outra pergunta. Por que as pessoas não vislumbram algo maior e se acomodam, fazendo o mínimo que pode ser feito? Aí mergulhamos um pouco mais fundo, mas me arrisco a dizer que é o resultado da falta de automotivação e a insatisfação com o que fazem, tema já abordado em textos anteriores. Isto forma um círculo vicioso, difícil de ser rompido, onde o funcionário fica infeliz com a situação e o gestor fica fazendo contorcionismos na difícil missão de detectar até onde vale a pena investir e quando é melhor abrir mão do colaborador.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Civilidade e bom senso

Mais uma vez ao começar um texto recorro ao dicionário para procurar o significado exato de um termo que sinceramente achei que não estivesse ali tamanho é o déficit disto na sociedade. Civilidade: Observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade; cortesia, urbanidade, polidez.

Centenas de vezes ouvi o clichê: “Vivemos num mundo civilizado...”. Pelo conceito da palavra, não existe mentira maior. No Brasil então, passa longe. O fato é que estamos tão habituados a isto, que certas coisas passam despercebidas. Pior, muitas vezes nós mesmos é que colaboramos para que estes maus hábitos se estabeleçam. 

Já abordei em outra coluna a questão das ‘palavras mágicas’ como obrigado, por favor, desculpe e com licença, entre outras, mas creio que isto está muito mais ligado a questões de educação pessoal. Quando falamos em civilidade, falamos em normas de bom convívio em comunidade. E aí as coisas ficam mais estreitas. O que me motivou a escrever este texto foi uma visita ao cinema nesta semana. Fiquei perplexo em como as pessoas são inconvenientes. Não existe o mínimo respeito para com os outros e faltam noções básicas de comportamento social. 

Certamente você já passou por situações deste tipo: Pessoas falando alto ao celular, furando fila, brigando por vagas de estacionamento, parando em locais proibidos, conversando em um tom de voz inapropriado, jogando lixo na rua, querendo levar vantagem, agindo com vandalismo e vivendo como se não existissem outros no mundo. Em um comum ‘efeito cascata’ estes atos podem causar danos inimagináveis.

Por si só esta situação já é desconsoladora. Contudo, além do aumento do número de conflitos (quantas vezes já ouvimos notícias de morte após uma discussão de trânsito?) há impactos ‘invisíveis’ gerados por esta falta de civilidade.

Uma sociedade mais civilizada geraria imediatamente, por meio da óbvia melhoria na convivência entre os seres humanos, diminuindo o estresse e melhorando até a saúde  física das pessoas. Numa percepção ainda mais sutil, um estudo da Universidade John Hopkins, calculou o custo da falta de civilidade nos Estados Unidos: 30 bilhões de dólares. Muito provavelmente no Brasil estes dados devem ser bem maiores. O motivo? A população é mal educada. Os reajustes dos preços de serviços como telefonia e transporte público, por exemplo, levam em consideração os gastos com depredação. Para se ter uma idéia, só no estado de SP, são gastos 14 milhões por ano para consertos de telefones públicos destruídos por vândalos. Um valor muito semelhante é investido para recuperar o patrimônio das pichações. É dinheiro suficiente para aquisição de mais de 170.000 cestas básicas.

Bom senso, ‘desconfiômetro’, integridade, boas maneiras, tolerância, honestidade, respeito, decoro, normas básicas de educação, cuidado com o patrimônio público são pontos cruciais para fortalecer relações cordiais. Para que este conceito se estabeleça são necessárias medidas de conscientização, principalmente de crianças e jovens e também pequenas atitudes, feitas por nós. Será que estamos ao menos fazendo nossa parte?